quinta-feira, 15 de março de 2012

A Dor da Alma

Senta-te ao teu piano e toca mais uma vez,
Repete as notas mais belas e faça delas a sangria pra essa dor que insiste em corroer,

Pois só a leveza do teu toque nelas pode agora acalentar-me o peito,
Assim ignoro o vil desprezo, recosto a cabeça no teu colo enquanto tocas todas elas,

Suspiro fundo e adormeço mas se ao despertar voltar a doer,
Toca outra vez, toca a vera, não titubeie, toque-as depressa.


por Eduardo Goulart

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Indiferença

"Tu te transformastes no mórbido
Que dói, menospreza, tráz pena,
Olhando a beleza ao lado,
Esquece-me, engana e desdenha.

À mesa o alimento e o ódio,
Falsa fartura que não alimenta,
A faca, instrumento de corte,
Prefiro-a mil vezes à indiferença.

Eu choro, tu te recolhes,
Sepultas o amor aonde jaz a tristeza,
Que importa se não me absorves?
Mata-me ou morre se és tu minha condena"!

por Eduardo Pessoa Goulart

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Os Vivas

"Viva a poesia, viva o amor ainda que platônico, embora este seja o mais sublime pois é sempre lúdico,
Viva a romaria dos santos, cortejo dos profanos, sinceridade e hipocrisia, a religião do praticante e a vida vadia.

Viva as praças, seus arvoredos, inocentes e amantes que nela se espreitam, juntam mãos e lábio inteiro,
Viva o conto do seresteiro, a boemia e o flagrante, a garrafa e o cachaceiro, o hébrio e seu romance.

Viva a janela donde anela a silhueta que a roupa cobre, a roupa veste inteira mas não há nó que não se solte ,
Viva a morena faceira, viva a timidez do nobre, ela encanta a vila inteira e torna o rico no mais pobre.

Viva para os vivas dos mancebos e suas estolas, percorrem toda a cidade divertindo a própria corja,
Viva o cacho de cabelo cobrindo um só olho da face ruborizada do figalgo bem disposto.

Ele, sedutor e nobre, belo e errante vinga o rico enlaçando a morena,
Ela linda, perfumosa, basta uma perna a mostra, vence o homem e ainda o beija.

Viva a mulher de saia e o garoto insolente que é o vento precisamente posicionado a soprar,
Viva a roda e sua cantiga, o que toca e o que afina, o que tudo faz cantar, quem de todos tem estima.

Viva o mudo e o que fala, o que fere e o que pena, viva mais quem usa a pena para a dor exorcizar,
Viva é a tinta que é o sangue da poesia cujos vivas vão de vida em vida, século e dia sempre a verbalizar."



por Eduardo Pessoa Goulart

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Um Moderno Romeu?

 
Ah, eu pensei ter o controle disso!
Mas desestabilizei-me diante de tamanho sorriso, perdi as rédeas, deixei-as em tuas mãos
E aos poucos me sinto puxado, resposta do teu querer que também me quer, eu acho.

A esperança é esta, a de que eu não ame sozinho, não outra vez,
Mas que o que sinto seja recíproco, forte a ponto de fazer-me redivivo
Tomando-me nos braços e fazendo-me livre, pois sou preso no escuro e veja, até o teu nome diz ser a luz que preciso.

Que as palavras me faltem e aumentem os suspiros,
E que se apegue minha boca à tua, que nossas mãos sejam uma, favorável nos seja o destino dessa vez,
Amor meu, liberdade minha, arrasta meu corpo, percebe os sinais que me tornam refém.

Já que sou presa, aceito meu fim,
Se este for ser cativo do romance previsto por devaneios tolos de um moderno Romeu.
Aceito a morte se esta for em teus braços, mas prefiro a vida sempre ao teu lado, tuas amarras me prenderam e agora sou teu.

O jeito, a voz, os pés, os olhos, a boca, o corpo, o tudo.
Não há uma só pessoa em todo este mundo que me convença de defeitos no alvo do meu querer.
Eu te juro que o gostar que instigaste em mim torna tudo mais fácil, o contrassenso é o teu cuidado, teu olhar assim de lado, não precisa sequer lutar porque eu te deixo vencer.

por Eduardo Pessoa Goulart

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Decisão de Uma Mulher

Ela é feita de que? Que contrastes vejo nela,
Se está ferida não mostra, e mesmo escrava faz-se bela.

Contudo não contenta mais o ser tão preterida,
Apesar de desejada quer por fim ser mesmo vista.

Quem não ama de verdade não pode jamais percebe-la,
Mas quem sente a dor na carne sabe ler o que ela pensa.

E num toque tão Divino de repente despertou
Deixou de ser escrava e livre, livre se tornou.

Olha agora como é linda a menina na mulher,
Sabida fez escolhas, e por fim sabe quem é.

Eduardo Pessoa Goulart

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Lugares

"Há lugares tão familiares que parecem ressoar notas musicais, tem cheiro de casa de avó, sabor de sobremesa favorita, quando lá estamos nos sentimos plenos e rimos, e se longe vamos parece que olhamos um album de família, foto amarelada, saudade de primos e tias. Tem lugar que é colo de mãe, passeio no sítio, abraço de pai, lembrança de amigos, xadrez com o avô, brincadeira com o cachorro, rezar com o filho, manta de retalhos, verdadeiro abrigo. Definitivamente há lugares tão familiares onde sou sempre visto, ouvido e bem-quisto, quero pois transportar-me a tais lugares, deles posso dizer que penso, logo existo".

Eduardo Pessoa Goulart

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ata-me

Ata-me aos teus braços
Usa o poder de sermos um
De dar febre a nossa pele
E razão aos respiros

O compasso acelerado do coração
É mais quente quando um outro vem
Dois somam tudo sem medo do não
Amo a descoberta de que além de mim há mais alguém

Ata-me com força e não deixa que eu me solte
Se prenderes bem forte nunca mais te deixarei
Esperei tamanha sorte e por ela me esforço
Então burla a covardia e vence

Desformes na matéria, alinhados no toque
Um desespero se instala ao pensar na ausência tua
Longe, usa a força abrupta, enlaça a presa
Ata-me, prenda-me, faz-me coisa tua.

Eduardo Pessoa Goulart